As Obras de Misericórdia, já identificadas no Evangelho e em diversos textos teológicos e litúrgicos antigos, devem ser entendidas, antes de mais, como uma forma de praticar o culto e louvar a Deus.
No período tardo-medieval, que antecedeu a fundação das Misericórdias portuguesas, muitos fiéis leigos, individualmente, ou em grupo, passaram a desenvolver ações de caridade, mais ou menos concertadas, em torno da assistência aos mais necessitados.
Seria neste contexto, e nesta nova tendência de manifestação de Fé, mais próxima de Cristo, que nasceriam inúmeras confrarias um pouco por toda a Europa, tanto no espaço rural como no urbano, que se dedicavam à prática de obras de devoção e de misericórdia para com o “próximo”.
Nesta sequência, no final do Século XV são fundadas as primeiras Misericórdias, por iniciativa de D. Leonor e com alto patrocínio do seu irmão, o Rei D. Manuel. Sob a forma de Irmandades, as Misericórdias rapidamente se expandem por todo o território e assumem um papel determinante no seio das comunidades onde se estabelecem.
Foi assim que no dia 6 de abril de 1524, cerca de uma centena de arraiolenses se reuniram na presença de João Álvares, ouvidor da Casa de Bragança nesta vila, e a ele manifestaram, e confirmaram, a intenção de erigir uma Irmandade destinada a cumprir e a fazer cumprir, tanto no campo espiritual como no corporal, as catorze obras de Misericórdia identificadas no Evangelho. Nascia assim, com sede provisória na capela do Hospital do Espírito Santo, a Santa Casa da Misericórdia de Arraiolos.
“Historiador José Calado”